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Os desafios de ensinar a ler
 e a gostar de ler
                                                                                          *Heloisa Carla Coin Bacichette
             “(...) a leitura tem que ser objeto de ocupação da escola porque ela é o caminho para a formação do indivíduo, e a escola se propõe a ser o espaço para essa ocorrência.”
 
 “Como a informação, de um modo geral, é transmitida e acumulada através da escrita e da arte, qualquer projeto de construção do olhar passa, necessariamente, pelo amplo domínio da leitura, tanto da escrita, como da arte.”
                                                                                                                          Jason Prado
 
 
           A linguagem é um meio de interação tipicamente humana. São as funções lingüísticas que permitem a profunda penetração na personalidade dos indivíduos. Quando falamos ou escrevemos estamos prevendo a existência de diálogo. Mesmo no monólogo ( que é um diálogo interiorizado, falado em linguagem interior) existe um diálogo entre um locutor e um ouvinte.(Brito, 1999,p.118).
 
            Para Marilena Chauí( in Geraldi, 1999,p92) “(...)Na leitura, o diálogo do aluno é com o texto e o professor é mediador desse diálogo.O professor mera testemunha desse diálogo, é também leitor, e sua leitura é uma das leituras possíveis.”
O professor que vê na leitura uma possibilidade de acesso ao conhecimento, à participação e à crítica não é somente mais um professor, mas um entre aqueles com capacidade de acrescentar às suas práticas, a leitura como meio de aproximação entre os indivíduos e a produção cultural, conforme observa( Zilberman e da Silva, p.112):
 
“(...)compreendida dialeticamente, a leitura pode se apresentar na condição de um instrumento de conscientização, quando diz respeito aos modos como a sociedade, em conjunto, repartida em segmentos diferentes ou composta de indivíduos singulares, se relaciona ativamente com a produção cultural, isto é, com os objetos e atitudes em que se depositam as manifestações da linguagem, sejam estas gestuais, visuais ou verbais (oral, escrita, mista, audiovisual).”
      
            Segundo os autores, para se construir uma pedagogia para a transformação do ensino da leitura é necessário que o professor assuma o desafio de ensinar a ler e a gostar de ler.
            Desse modo, é preciso que você, professor, consiga situar-se diante da sua concepção de leitura. Isto é: ou você é um professor que compreende a leitura como instrumento de conscientização ou é aquele que a compreende como instrumento de controle( Zilberman e da Silva, p.112):
 
“(...) Quando a sociedade se divide em classes antagônicas e mostra-se desigual em diferentes níveis, a leitura pode se apresentar na condição empregado sistematicamente pelos setores dominantes; neste caso ela constitui elemento auxiliar do processo de inculcação ideológica(...)
 
              Assim, se sua opção for pelo ensino da leitura como instrumento de conscientização é necessário analisar e compreender as contradições existentes na sociedade brasileira para não cair nas armadilhas da ideologia dominante, que preconiza uma leitura superficial e sem atender às necessidades do indivíduo. Entende-se que a leitura é uma atividade que se inicia na educação informal ( família) e encontra sustentação na vida em comunidade.
        
             Em relação a leitura e produção textual, devemos considerar seus diferentes tipos e sua adequação ao leitor. Cabe ao professor propiciar situações que objetivem a transformação do leitor pela leitura.
 
              De acordo com(Prado,2005) “Sabemos que é pelo contato com os mais diversos textos que um aluno pode “experimentar” vivências alheias e construir as referências que sustentarão as suas escolhas.Que, quando ele sai do discurso objetivo do saber científico e entra em contato com os “eus” e “tus” das personagens literárias, passa a exercer subjetividade que o afirma como pessoa, como indivíduo, como cidadão.”
 
              Portanto, quando disponibilizamos um espaço na escola permanente para a leitura, para a discussão; quando asseguramos o acesso a diferentes tipos de leitura; quando oportunizamos situações de aprendizagem que ofereçam condições para o aluno conhecer diferentes tipos de textos e que esses momentos concedam o direito ao debate e conflito de interpretações; quando adotamos propostas fundamentadas teoricamente e que possam ser executadas, estamos assumindo verdadeiramente nosso papel como professor leitor e formador de leitores competentes, críticos e atuantes.
 
             Assim, possibilitar ao nosso aluno o desenvolvimento de sua sensibilidade expressiva e não permitir que a leitura seja mecanizada são tarefas essenciais para os educadores que acreditam em uma nova proposta para a leitura na escola. Contudo, compreende-se, que para executarmos nossas ações precisamos organizar um roteiro de trabalho.
           
            Nessa perspectiva, é indiscutível destacar a importância do professor que entende aleitura como um exercício de cidadania, isto é, aquele que cria atividades complementares à alfabetização e que privilegiem o pluralismo de idéias(Melo,2002,p.106). Vale enfatizar, também, que segundo o autor é tarefa do professor permitir aos educando não só o domínio da linguagem escrita, mas uma ampla competência lingüística, nos campos visual e auditivo.
 
             Talvez, nosso projeto de incentivo a leitura e produção escrita comece quando conseguirmos olhar para os nossos alunos como seres únicos e , a partir da diferença, construir um projeto reunindo diferentes linguagens que lhes sirva como suporte para ampliar seu olhar diante da realidade e para que tenham condições de dominar a leitura, tanto da escrita como da arte.
              Muitos são nossos desafios, mas sabemos que o maior deles é acreditar que é possível ser um professor que vê no ensino da leitura a possibilidade de articular a participação democrática dos educandos na vida em sociedade, munindo-os de informação, conhecimento e idéias.
 
   
*Professora da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, Licenciada em Letras e Literatura pela UCS; Especialista em Educação do Movimento(UCS); Escritora, oficineira e contadora de histórias.
 
 
 
Referências:
 
 
GERALDI, João Wanderlei(org.). O texto na sala de aula. São Paulo,SP: Ática,1999.
PAULINO, Graça[et al.]. Tipos de textos,modos de leitura. Belo Horizonte,MG: Formato,2001.
ZILBERMAN,Regina&da SILVA,Ezequiel Theodoro (org.).Leitura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo, SP: Ática, 2004.
 
 
Prado, Jason. A construção do olhar. Revista Leituras Compartilhadas.Ano 5. Rio de Janeiro.
 
 
               HELOISA CARLA COIN BACICHETTE
 Contatos: e-mail: helocb@terra.com.br
                 Site: www.helobacichette.com
                 Telefones: 54 99 78 41 27
                                   54 3222 74 42 (res)
 
Sugestões de Leituras:
 
AGUIAR, Vera Teixeira (org.). Era uma vez... na escola- formandp educadores para formar leitores.Belo Horizonte. MG: Formato,2001.
 
BRANDÃO, Sérgio Vieira. Laboratório de redação para séries iniciais do Ensino Fundamental. São Paulo,SP: Paulinas,2003.
BRANDÃO, Sérgio Vieira. Laboratório do jovem escritor. São Paulo,SP: Paulinas, 2008.
CAVALCANTI, Joana. Jornal como proposta pedagógica. São Paulo,SP: Paulus,1999.
NEVES, Iara Conceição Bitencourt ...[et al.]. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas.Porto Alegre,RS: Ed. da UFRGS,2000.
CHIAPPINI, Ligia (org.) Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos.São Paulo,SP: Cortez, 2002.
ROSING, Tânia M.K & BECKER, Paulo. Leitura e animação cultural- repensando a escola e a biblioteca.Passo Fundo:UPF, 2005.