Helô Bacichette estará, na noite desta segunda-feira, no bate-papo Órbita Literária
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Um livro para criança tem de ensinar algo, certo? Errado! O pedagogismo, aliás, é uma das armadilhas que, juntamente com o politicamente correto e o adultocentrismo, muitas vezes ameaçam a invadir as obras para crianças, deixando o literário de lado. Para debater o assunto, a escritora Helô Bacichette estará, na noite desta segunda-feira, no bate-papo Órbita Literária, em Caxias do Sul, abordando o tema A Literatura Infantil Ameaçada.
— Historicamente, a literatura infantil começou como uma ferramenta dos adultos para repassar conceitos e doutrinas às crianças. Com o tempo, isso felizmente mudou, e os textos dogmáticos cederam espaço a outros mais questionadores, abertos, que não castram a criança. Mas hoje parece haver um retrocesso — diagnostica Helô.
Autora de 17 livros, contadora de histórias e integrante do Departamento do Livro e da Leitura Helô diz que não é papel do escritor passar mensagens ou valores:
— A literatura não tem de ter caráter de utilitarismo. Se o livro apenas reproduz um discurso pronto, do que o adulto pensa, dos valores dele, não deixa espaço para a criança pensar. E aí o prazer de ler fica de lado, restando apenas o dever.
Na visão da doutora em Letras Flávia Brocchetto Ramos, professora da UCS, a literatura para crianças nunca se libertou totalmente do pedagogismo, embora ações como o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) tenham incentivado a escrita literária para esse público. Como Helô, ela destaca que o literário discute o humano, tratando simbolicamente o que o didatismo traria como lição de moral.
— O grande problema é que, muitas vezes, um professor quer associar o livro a uma disciplina ou conteúdo específico, e o lê como um rótulo: "esse livro trata de inclusão" — exemplifica.
Para Helô, muitos não entendem o que é literário, nem percebem que as crianças não vão simplesmente imitar o que está nos livros. Ela também lembra a "caça às bruxas" que às vezes é feita com alguns títulos e autores — o próprio Monteiro Lobato, precursor da literatura infantil brasileira, já foi acusado pelos defensores do politicamente correto de ser racista, com pedido de veto de algumas passagens consideradas má influência. Sem falar que a bonequinha Emília, a mais querida da turma do Sítio do Pipapau Amarelo, é pra lá de desbocada, segundo alguns:
— Queriam mudar a Emília! Ela não é malcriada, é crítica — defende Helô.
O Órbita Literária ocorre a partir das 20h desta segunda, na Do Arco da Velha Livraria e Café, na Rua Dr. Montaury, 1.570, em Caxias do Sul.